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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Monográfico de Conímbriga
N.º de Inventário:
64.20
Supercategoria:
Arqueologia
Categoria:
Artefactos ideotécnicos
Denominação:
Vaso fálico
Título:
Vaso ritual
Centro de Fabrico:
Cerâmica comum local e regional de Conímbriga
Datação:
IV d.C. - V d.C. - Romana / Baixo Império
Matéria:
Barro
Suporte:
Cerâmica
Técnica:
Torneada
Dimensões (cm):
altura: 18,5; diâmetro: 18 (do bojo);
Descrição:
Vaso de pansa ovóide e colo tronco-cónico. O fundo é raso, a boca revirada para fora e rebordada em cordão. Tem uma asa de fita e, do lado oposto, três falos; o do centro, maior, suporta uma taça que o oleiro soldou também ao colo do vaso. Barro bem coado, de cor alaranjada. Cf. ALARCÃO, Adília; PONTE, Salete (1994), Museu Monográfico de Conímbriga - Colecções, Ed. Instituto Português de Museus, Conímbriga, p. 166, nº 557.
Incorporação:
Outro - Escavações
Proveniência:
Conímbriga.
Origem / Historial:
*Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei nº 107 / 2001, de 8 de Setembro, e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei nº 107 / 2001, de 8 de Setembro; Acto legislativo: Decreto nº 19 / 2006, 18 / 07 / 2006*. Escavações Luso - Francesas (1964-1971). "Vaso ritual particularmente curioso, provido de três falos. Os falos não são, neste caso, puramente decorativos, mas profiláticos: destinavam-se a esconjurar Invidus ou o mau olhado de alguém. O phallus, com efeito, segundo ensina Plínio, o Naturalista, era o medicus invidiae por excelência, o melhor remédio para afastar essa divindade invejosa, apostada em fazer os homens infelizes e as empresas fracassadas. Servia ao mesmo tempo contra o Fascinum, isto é, o mau olhado de certos homens. A desgraça e a ruína podiam ser provocadas a um inimigo por meio de imprecações. O elogio podia também provocar a desgraça do elogiado se causava inveja aos deuses. Mas havia ainda quem tivesse, mesmo involuntariamente, o mau olhado, quem lançasse a desgraça aos outros com seu simples olhar. Assim, as mulheres com pupilas duplas eram por esse facto maléficas, diz Cícero. Como remédio contra o mau olhado ou para afugentar Invidus usavam-se gestos, objectos, representações sexuais ou eróticas em mosaicos, frescos, pedras de construção, lucernas. Num mosaico de Hadrumetum, em que se vê um phallus sobre um olho, uma inscrição acompanhante Invidiosibus quod videtis ( o que vedes diz respeito aos malefícios de Invidus) torna perfeitamente explícito que o phallus era remédio contra o mau olhado. Porquê a frequência dos orgãos sexuais usados contra Invidus e o mau olhado? G. Lafaye parece considerar a vergonha como a razão do desvio do mau olhado e daquela divindade; mas talvez o terror das forças destruidoras de que o sexo feminino seria fonte, ou o sentimento de impotência diante da força genesíaca contida no phallus sejam melhor explicação para a fuga de Invidus. Nos séculos II e III d.C, as representações fálicas, cujo valor profilático foi primeiramente reconhecido por P. Gaucker e mais tarde amplamente documentado por Merlin e Poinssot, tornaram-se frequentes em mosaicos, em soleiras e vergas de portas, nas fachadas das casas. Destinavam-se certamente a proteger os locatários. O nosso vaso, encontrado no pavimento térreo de uma casa, serviria a proteger os habitantes ou a garantir o êxito da construção. Com efeito, várias inscrições da África do Norte revelam o sentimento triunfante com que se concluíam os edifícios e, indirectamente, o receio com que se iniciava a construção, não fosse Invidus impedir ou dificultar a sua conclusão. Et hoc factum est ou Intra, fruer baias quas perfeci denegabas são inscrição deste tipo. Não conhecemos nenhum outro vaso completo semelhante ao de Conimbriga; podemos todavia apontar dois fragmentos de vasos idênticos, um em Conimbriga e outro em Lancia (Espanha). O primeiro, parte de um phallus com taça correspondente completa, foi encontrado nos entulhos da casa do mosaico da cruz suástica, abandonada aquando da construção da muralha, isto é, nos fins do século III ou nos inícios do IV d.C.; o segundo, que nos foi indicado pelo Prof. Garcia y Bellido, é um phallus completo com a respectiva taça também inteira. As outras peças de cerâmica itifálicas que conhecemos não são paralelos próximos do nosso vaso: são lucernas figurativas de Priapo ou de homens itifáliocos, cujo bico é constituído pelo phallus erecto, ou bilhas de corpo piriforme com gargalo em forma de phallus encontradas na Germânia. O achado do vaso de Conimbriga no pavimento térreo de uma casa parece-nos prova de que foi ali posto para defender a construção contra os malefícios de Invidus. Noutros casos, em vez de vasos, usava-se enterrar ossos de galináceos. Em Conimbriga encontrámos um exemplo destes num pequeno caixão de tégulas junto da fachada das Grandes Termas do Sul. Mas terá sido o nosso vaso feito expressamente para ser enterrado nos alicerces da casa, com um ritual de que ignoramos os permenores? Não seria antes um vaso primeiramente com outra serventia, aproveitado depois para proteger a construção? Assim como havia lucernas, urnas e outros vasos utilitários como representações de phalli, podemos admitir para este caso de Conimbriga inicialmente outra serventia. Parece-nos, todavia, que há-de ter sido sempre um vaso ritual usado em cerimónias contra Invidus; mas será conclusão apressada dizer-se que essas cerimónias eram sempre as de lançamento de alicerces ou pavimentos de casas." (J. ALARCÃO, Cerâmica comum local e regional de Conímbriga, Fouilles de Conimbriga, Volume V, pág. 103 / 105, nº 609, Est. XXIX)
 
     
     
   
     
     
     
 
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