Origem / Historial:
*Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei nº 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; nº 19/2006; 18/07/2006*
Esta pia foi oferecida pela Junta da Paroquia de Cacela para o Museu Archeologico do Algarve, fundado em 1880 por Estácio da Veiga. Posteriormente (1893) integrou o acervo do então criado Museu Ethnographico Portuguez. É de supôr que terá pertencido a uma fonte integrada num conjunto arquitectónico entretanto destruído. Estácio da Veiga, no levantamento arqueológico do Algarve iniciado em 1877 cujos resultados foram publicados na Carta Archeologica do Algarve (1879), refere Cacela como "uma povoação extinta ou arrasada" da qual levantou a planta da fortaleza, de uma antiga cisterna e de um silo. Cacela, Hisn al-Kastalli dos Árabes, uma das fortalezas do Gharb al-Andalus al-Aqsa ou seja do Ocidente Extrêmo do al-Andalus (conceito a que grosso modo corresponde o território de Portugal de hoje), constituiu feudo dos Banu Darradj no séc. X. Foi conquistada pelos Portugueses pela primeira vez em 1240 e definitivamente ocupada em 1242, já na fase final da Reconquista.
Do seu passado islâmico pouco resta, subsistindo contudo ainda fragmentos do pano das muralhas em taipa e uma cisterna, tendo aí sido, em momentos diferentes, encontrados outros vestígios da cultura material, importantes testemunhos da riqueza e variedade da civilização islâmica, como é o caso de um excepcional candil de dois bicos em metal e alguns artefactos de cerâmica, igualmente no acervo do MNA.
Noutras colecções existem peças congéneres, nomeadamente uma pia, dividida em seis gomos, no acervo do Museu Arqueológico de Granada como ainda uma outra, conservada in situ, no Jardim de Lindaraja no complexo palaciano de Alhambra. Além destas, existe uma pia epigrafada dividida em seis gomos, proveniente de al-Andalus e atribuída ao séc. XII, no Museum fur Islamische Kunst (Berlim). Em 1991, nas excavações na zona do Teatro Romano em Lisboa foi descoberta uma pia semelhante, também dividida em oito gomos embora de dimensões mais pequenas ostentando uma inscrição em árabe (inédita) em carácteres cúficos, tendo integrado a recente exposição da Lisboa Subterrânea no MNA (1994).
A pia de Cacela, conjuntamente com outros monumentos epigáficos do MNA, foi estudada por A. R. Nykl, eminente especialista americano de literatura e epigrafia árabes que nos anos quarenta empreendeu a primeira inventariação e estudo sistemático de epigrafia árabe de Portugal. No mais recente e completo estudo de autoria de Artur Goulart de Melo Borges intitulado "Panorâmica de epigrafia árabe em Portugal", o autor refere esta lápide como proveniente de Sintra, invocando a versão dada por A.R. Nykl na edição de 1946. Esta atribuição todavia não é aceitável em função de dados concretos, contidos no Inventário do Museu Archeologico do Algarve (1885) e do Catalogo Illustrado da Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portuguesa e Hespanhola (1882), ambas datadas da época muito próxima da sua descoberta.
Estudo da peça : Eva - Maria von Kemnitz.