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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
V 0061
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Berlinda Processional
Título:
Berlinda Processional de Nª. Sª. do Cabo Espichel
Autor:
Desconhecido
Local de Execução:
Portugal.
Datação:
1740 d.C.
Matéria:
Madeira (carvalho e/ou azinho); vidro; ferro; tefetá de seda; galão e franja de ouro.
Técnica:
Madeira entalhada, policromada e dourada; ferro forjado, soldado e dourado.
Dimensões (cm):
altura: 311; largura: 158; espessura: 4,7 / 5,2 (rodas dianteiras e traseiras); diâmetro: 76 / 143 (rodas dianteiras e traseiras); comprimento: 431;
Descrição:
Berlinda processional de quatro rodas, com caixa ou "maquineta" rectangular envidraçada, montada entre dois varais marginais. Adossadas aos ângulos superiores da caixa encontram-se quatro lanternas sextavadas, em ferro dourado, fechadas por seis vidros antigos e idênticos. No painel dianteiro, pintados sobre fundo esverdeado, o sol e a lua; no painel traseiro, o so, resplandescente e um espelho, reflector de luz divina, e nos apainelados laterais, uma rosa e uma açucena (flores relacionadas com o culto mariano, à esquerda) e um casebre de madeira e uma torre torreada (direita). Ao centro do eixo do rodado dianteiro distingue-se uma estrela de oito pontas sobre palmas cruzadas na base. Um pouco acima, ao centro da viga transversal que une os varais, uma águia de vulto perfeito seguro no bico dois louréis. Ao centro do eixo do rodado traseiro foi esculpida uma cabeça de criança em vulto perfeito, coroada de flores e com longos cachos pendentes, interligados por laço. No interior, possui quatro cortinas de tafetá de seda carmesim, fixas aos ângulos internos. No exterior, lança nº41. Acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe perpendiculares) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura). Mais informação, consultar o livro "O Giro de N. Srª do Cabo e as Berlindas Processionais" do Museu Nacional dos Coces, pág. 41.
Incorporação:
Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Transferência das Reais Cavalariças de Belém.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * O círio de Nossa Senhora do Cabo parece ter tido início em 1428, data em que foi doada aos frades dominicanos a Ermida da Aparição, até então conhecida pelo nome de Ermida de Santa Maria da Pedra da Mua, da qual subsistem alguns vestígios nas escarpas próximas do santuário do Cabo Espichel. O círio foi realizado pela primeira vez em 1430 e, sessenta anos mais tarde, arrancava a construção de um novo templo já da invocação de Nossa Senhora do Cabo, directo antecessor do actual santuário mandado erigir pela Casa do Infantado, para onde foi transferida a imagem em 1707. O círio, em termos populares, designa a romaria de uma comunidade ou população a um santuário "de destino", como paga de uma "promessa colectiva" ou de uma "promessa antiga". Quer isto dizer que se trata de uma obrigação sazonal e cíclica, assumida pela colectividade. Para tal, organiza-se uma irmandade que proporciona, através de iniciativas diversas, como por exemplo peditório, a arrecadação de fundos necessários à realização da romaria, que assume a forma de uma peregrinação, sendo obrigatório o percurso e a passagem por determinados lugares. Em geral, o círio é organizado "à margem" da Igreja Católica, que se associa, porém, á romaria e aos festejos. No santuário "de destino" venera-se a imagem de uma santa, a mais das vezes uma Nossa Senhora. Esta imagem ficará à guarda de um dos círios, isto é, de uma das comunidades envolvidas no culto, em casa do juiz, que também arrecada e conserva as insígnias e outros bens que fazem parte da romaria. Este depósito transitório da santa, geralmente com duração de um ano por cada círio, termina com o transporte em romaria da imagem até ao santuário. Segundo Leite de Vasconcelos, o nome círio conferido a estas organizações provirá da grande vela de cera , ou círio, que é transportada pelos romeiros até ao santuário. De ser levado o círio pela romagem passou, por metomínia, a chamar-se círio à própria romagem. Para venerar Nossa Senhora do cabo, estavam agremiadas em Confraria vinte e seis freguesias do termo de Lisboa: S. Vicente de Alcabideche, S. Romão de Carnaxide, S. Julião do Tojalinho, S. Pedro de Penaferrim, Nossa Senhora da Misericórdia de Belas, Santa Maria de Loures, S. Lourenço de Carnide, S. Pedro de Barcarena, S. Pedro de Lousa, Santo Antão do Tojal, Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, Nossa Senhora do Amparo de Benfica. S. Domingos de Rana, S. João das Lampas, Nossa Senhora da Purificação de Montelavar, Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora de Belém, Ascensão e Ressurreição de Cascais, Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, S. Martinho de Sintra, S. Pedro de Almargem do Bispo, Santo Estevão das Galés, Nossa Senhora da Conceição de Igreja Nova, S. João Degolado de Terrugem, S. Saturnino de Fanhões, Santa Maria e S. Miguel de Sintra a que se acrescentariam outros círios, como os da Caparica, Seixal, Arrentela, Almada, Palmela, Azeitão e Sesimbra, Setúbal e Coina. Cada uma destas freguesias tinha à sua guarda, durante um ano, a réplica da Imagem da Real Capela do Cabo, ficando obrigada a custear as festas realizadas em sua honra. A celebração de Nossa Senhora do Cabo dá-se em Agosto ou em Setembro, integrando-se principalmente nestes dois meses as datas escolhidas pelos círio. O culto de Nossa Senhora do Cabo sempre foi particularmente acarinhado pelos membros da Família Real Portuguesa, sabendo-se que os Duques de Bragança (futuro D. João VI) e D. Miguel foram juízes do círio, respectivamente em 1784, 1796 e 1810. Também a rainha D. Maria II mandou fazer uma bandeira com a imagem da Senhora do Cabo bordada a ouro e o frontal de altar usado na cerimónia de casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans pertencia ao santuário do Cabo Espichel. Todos os anos a Imagem era trazida a Belém, seguindo depois por via fluvial até à outra margem, onde se organizava o famoso círio que a acompanhava ao Santuário do Cabo. Os festejos, a que acorria sempre uma multidão de romeiros, duravam cinco dias consecutivos, tendo início na terça-feira que antecedia a Ascensão. Nesse dia, o círio saía de uma determinada freguesia, que tinha por obrigação depositar a imagem da Senhora do Cabo na capela de Nossa Senhora das Dores, em Belém. Na quarta-feira, a imagem atravessava o rio em direcção a Porto Brandão, sendo transportada por escaleres da Casa Real e saudada pelas fortalezas com uma salva de vinte e um tiros. Após o desembarque, formava-se de novo o cortejo que seguia à beira-mar atá ao santuário do Cabo Espichel, onde a imagem era aguardada por festeiros e mordomos. Os maiores festejos ocupavam toda a quinta-feira de Ascensão, sendo o dia seguinte consagrado a todos os festeiros falecidos, com missa de "Requiem". O sábado era consagrado a S. Joaquim e, por último, procedia-se à entrega da Imagem e da bandeira da Senhora do Cabo à nova freguesia, cerimónia acompanhada de "Te Deum" e Ladaínha. No final, a Imagem regressava a Belém e, sempre com grande pompa, era transportada a outra freguesia. Este cerimonial repetia-se durante vinte e seis anos, até se completar um ciclo. No século XVIII, as festas incluíam espectáculos de ópera e de touros, aos quais assistia a Família Real. Relata frei Cláudio " Foi o Senhor D. José (...) com toda a Família Real, A Nossa Senhora do Cabo, fazer a festa do costume, e ahi se fizeram funções Reaes dignas de tal Monarcha. Mandou este Senhor para comodidade dos Romeiros, que se armassem barracas por detraz das casas que estão no Arraila da parte do Sul, as quaes vierão da fundição, e todos ficarão muito bem acomodados. Mandou dar desasseis bois de bodo, e não quiz que se alterasse nada do costume. Foi toda a Corte a tão luzida funcção, em que houverão três tardes de toro. Correndo toda a despeza por conta de sua Magestade, nada mais dependeo a Confraria do que pagar ao Capellão./ El rei nosso Senhor mandou fazer concertos, e reparos nas casa precisas, renovou tudo, e enriqueceo a Fabrica com os ricos ornamentos, bordados (...) que se conservão no Thesouro do Paço de Belém onde está o mais que tem dado suas Magestades e Altezas quando tem servido.He digna de memoria a generosidade com que este grande Monarcha concorreo para se fazer a obra da casa de água, de que necessitava aquela terra, permittindo fazerem-se humas tardes de touros na Junqueira cujo producto era applicado para a dita obra, dando o mesmo Senhor do seu bolcinho muitos mil cruzados." Segue-se uma descrição da romaria de 1784, em que foi juiz do círio de Queluz o futuro D. João VI " Os festeiros embatcavam em Belém nas galeotas e faluas reais e desembarcavam em Porto Brandão onde o povo os esperavam com foguetes e morteiros. Enquanto a Torre de Belém dava as salvas de estilo, o cortejo dirigia-se à Capela onde os "Anjos" três crianças vestida à romana, cantavam as "loas". Em seguida organizava-se o cortejo a caminho do Cabo ao som de música, foguetes e repicar do sino pela seguinte ordem; à frente seguia no meio de grande cavalgada o juiz da festa, empunhando a bandeira do círio, depois os três "Anjos" montados em cavalos brancos. Atráz seguia a Berlinda com a Imagem da Santa cercada por cavaleiros empunhando velas, depois ia o carro com os Padres, outro com procuradores e finalmente a galera da música.Na cauda seguia o povo em dezenas de carros de toda a espécie, com os mais variados ornamentos, que formavam uma alegre e extensa fila." No século XIX, a ida ao Cabo passou a realizar-se de quatro em quatro anos sem que, no entanto, se interrompesse a transferência solene da uma freguesia para outra. A Implantação da República e a nova mentalidade então vigente quebraram a tradição secular do círio que, na opinião de muitos autores, se encontrava praticamente extinto desde 1851, quando Sintra deixou de cumprir as suas obrigações. Desde então, a Imagem foi vítima de graves mutilações, para só agora ser restaurada e restituída ao culto. Como a distância entre as freguesias era grande, a condução da Imagem fazia-se numa berlinda processional atrelada a duas parelhas e sempre acompanhada de inúmeros carros, cavalos e lanceiros. As três berlindas que lhe pertenciam encontram-se hoje depositadas no Museu Nacional dos Coches, para onde transitaram ao abrigo da Lei da Separação (1911). De todas elas, a mais imponente e artisticamente valiosa é a berlinda em apreço, oferecida à Imagem pela Família Real Portuguesa, cerca de 1740, em virtude de ser grande a sua devoção e de o padroado da Real Capela pertencer à Casa do Infantado. Quando, no seu círio, a Imagem vinha para a freguesia da Ajuda, o cortejo assumia contornos de ainda maior sumptuosidade, integrando diversos carros e a repectiva criadagem cedidos pela Casa Real. Posteriormente, a berlinda serviu nas seguintes datas: - Círio de Nossa Senhora do Cabo para a freguesia da Ajuda, 1770, tendo sido juiz da festa o Príncipe D. José. - Círio de S. Martinho de Sintra, com a presença da Família Real Portuguesa. - Figurou no círio de Nossa Senhora do Cabo (Ajuda), integrado nas comemorações do Ano Santo, em 15 de Junho de 1950. - Transporte do círio da Capela da Sagrada Família, Bairro de Caselas, para a Ajuda (Comemorações do Ano Santo), 22 de Outubro de 1950. - Festejos na Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda 22 Setembro de 2001 (cortejo da Igreja de N. S. de Belém de Rio de Mouro à Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, passando pela Igreja do Coração de Maria do Cacém, Igreja de N.S. da Misericórdia de Belas, Igreja da Sagrada Família de Caselas.)
 
     
     
   
     
     
     
 
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